segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

Ron Dennis e a arrogancia dos perdedores

Na passada quinta-feira, Ron Dennis fez voz grossa em relação à falta de um patrocinador master nos flancos dos seus carros, um problema que já vêm desde o ano passado, mas que ainda não foi resolvido, o que preocupa um pouco os fãs da marca sobre se há problemas financeiros ou não.

A resposta foi um bocado desconcertante: "Temos espaço para marcas maiores em nossos carros? Sim. Mas a realidade é que nos colocamos em uma posição em que o lado tecnológico do nosso negócio está fornecendo diferentes dinâmicas [de receita]. Nós não desistimos da ideia de atrair grandes somas de dinheiro para o nosso carro, mas o que nós não queremos fazer é colocar grande marcas em níveis baixos de dinheiro” – disse Dennis à Autosport britânica.

"Eu ainda acho que podemos vir e dizer: 'você vai nos patrocinar? Nós ainda somos o Machester United'. A última coisa que você deve fazer é, de repente, começar a aceitar ofertas que estão em último lugar na tabela. Isso é falho, e eu não penso assim” – concluiu.

Lendo as coisas da seguinte forma, chego à conclusão de que o Tio Ron... é arrogante. Para além de ser pobre, é mal agradecido, numa atitude de "orgulhosamente sós", vindos de regimes ditatoriais isolacionistas. Mas também é mau perder perante as ofertas de patrocínio do qual os potenciais interessados decidiram ir embora. É verdade que têm a divisão de automóveis que vende bem, e a secção mecânica, por exemplo, também ajuda nas contas da empresa. Mas também é verdade que a McLaren não ganha qualquer corrida desde o GP do Brasil de 2012, com Jenson Button ao volante. E há os receios que pairam sobre o carro de 2015 e o motor Honda, dos quais vimos como se comportou nos testes de Jerez. Os receios de que isto poderá começar mal são grandes.

Segundo o que conta o Joe Saward, o orçamento anual da McLaren anda a volta dos 350 milhões de dólares, e um patrocinador master - como havia anos antes com as tabaqueiras - se aparecesse agora, teria de arranjar um valor anual que cobrisse o equivalente a 40 ou 50 por cento desse orçamento. Ou seja, se a Marlboro ou a West entrassem agora, teriam de dar, pelo menos, 100 e 125 milhões de dólares, o que é imenso. Talvez seja o orçamento da Force India, por exemplo... e como não há maneira de as equipas de ponta se controlarem nesse campo, patrocinar alguém com esse valor em cima da mesa, não deverá haver ninguém disposto a dar esse valor. Reparem: 125 milhões... por ano!

Para dar um exemplo, se um patrocinador quiser fazer um acordo de patrocínio num dos grandes clubes da Premier League inglesa, gastará cerca de 30  milhões de euros por ano. É o que faz a Samsung, Emirates, ou a Chevrolet, entre outros. E o retorno será bem maior do que 20 corridas de Formula 1, mesmo se ambos tenham os seus jogos em sinal fechado, por exemplo.

É certo que as declarações de Ron Dennis não vêm sem justificação: por um lado, a McLaren é uma das equipas que está protegida pela FOM, pois faz parte do Grupo de Estratégia. Sendo a segunda mais antiga do pelotão ainda a funcionar, terá direito a um valor generoso, ainda antes de colocar os primeiros parafusos nos seus carros. Mas também estão à espera de ver quanto é que conseguem das televisões, principalmente aqueles de sinal fechado, que são os que ficaram com os direitos da Formula 1. Daí não se preocuparem com a queda nas audiências ou na elitização do seu público. No final do dia, o dinheiro continuará a entrar nos seus cofres.

Mas as atitudes de Dennis são os mesmos que vemos em Bernie Ecclestone, por exemplo. Não é nada de novo, vivem numa bolha e acham que isto é sustentável para sempre. Se a concorrência desaparecer, melhor: são menos com quem dividir o dinheiro.

No final do dia, a história da falta de patrocinadores na McLaren deveria ser encarada como um aviso da insustentabilidade desta situação no médio prazo, ou então na incapacidade de Dennis mudar de estratégia e arranjar "sponsors" mais pequenos, mas que no conjunto daria mais dinheiro. Foi o que fez a Williams, quando arranjou pessoal como a Martini ou a Procter and Gamble, com a marca Rexona. Veremos como serão as coisas nesta temporada, mas é altamente provavel que a McLaren sofrerá com os novos motores Honda. Nem que sejam os famosos "problemas de juventude"... 

2 comentários:

DaniGimenes disse...

Acredito que ele se referia apenas a patrocinadores título, pois a CNN e Segafredo se juntaram a equipe neste ano. Mas se ele baixar a arrogância, seria muito melhor para atrair patrocinadores. Texto muito bom.

Ron Groo disse...

eu acho que estas frases dele fazem parte do jogo da venda do produto.
Quer patrocinar a gente? beleza... faça por onde.
A marca Mclaren é muito grande, é a única rival de verdade da Ferrari (Mercedes não conta) tem termos de carros de rua (e também na pista)
Entregar a carenagem ao bar do tio zé da esquina não é negócio, que seja gente grande.