terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

As cabeças que foram cortadas na Honda

No código de honra dos samurais, algo que cause vergonha a ele e ao seu senhor do qual está a servir é uma ofensa grave do qual a pena seria de sacrifício. Sacrificar-se num ritual conhecido como "seppuku", onde a pessoa em questão pegaria num pequeno punhal e num gesto rápido, espetaria no seu próprio abdómen, causando a sua própria morte. Dependendo do local onde espetaria esse punhal, demoraria algumas horas - por vezes, dias - a sucumbir aos seus ferimentos auto-infligidos. 

Hoje em dia, no Japão, esse "harakiri" é bem mais raro, mas na Honda, não é preciso que os seus engenheiros façam isso para se responsabilizarem pelos fracassos da marca neste seu regresso à Formula 1 com a McLaren, que resultou no fracasso que todsos nós conhecemos. Nono lugar no campeonato de construtores, zero vitórias, zero pódios - um quinto lugar na Hungria foi o melhor resultado - e um dos piores desempenhos de sempre da equipa de Woking. 

Espera-se que em 2016, as coisas melhorem, mas não vai ser com Hideo Sato e Yashuisa Arai (na foto) ao leme. Eles já foram despedidos, e o anuncio oficial acontecerá neste momento em Tóquio, pela voz de Takahiro Hachigo, o presidente da Honda. Pelo menos é o que conta esta segunda-feira o Luis Vasconcelos, na Autosport portuguesa. Não é harakiri, mas mais uma execução samurai da II Guerra Mundial, onde o soldado cortava a cabeça do inimigo num único golpe.  

Mas há nuances: no caso de Sato, o afastamento vai coincidir com a sua reforma, pois ele faz agora 65 anos, e ele chefiou o departamento de desportos motorizados da marca japonesa desde 2001, ou seja, quando a Honda também estava na Formula 1, fornecendo motores à Jordan e à BAR, antes de avançar com a sua própria equipa em 2006, com o desastre que conhecemos. Já Arai tem mais a ver com as pressões da McLaren para que o tirasse dali, e apesar do seu relacionamento pessoal com Hachigo, ele vai ser colocado numa "prateleira dourada".

Segundo o que se conta na matéria, o seu sucessor vai ser um engenheiro apoiado pela "velha guarda", ou seja, os que desenharam e construiram os motores V10 e V12 vencedores no inicio da década de 90 nas mãos de Ayrton Senna. E essa pessoa irá aparecer em resultado de uma disputa interna, pois foi ele que resolveu - por sua própria conta, à revelia de Arai e com a ajuda da tal velha guarda - redesenhar o motor V6 turbo de forma a ser potente e a resolver os graves problemas que tinha consigo ao longo do ano passado. Disse-se ao longo de 2015 que o grande problema foi o desenho do MGU-K, que aparentemente era demasiado estreito e ineficaz, comparado com o Mercedes, por exemplo.

O nome dessa pessoa será provavelmente dito durante a tal conferência de imprensa que vai acontecer dentro de algumas horas, em Tóquio. Resta saber se esse projeto vai ser capaz de salvar a face dos japoneses e recuperar a credibilidade de ambas as marcas. E o grande rumor é que o motor é forte, mas há receios sobre a sua fiabilidade. 

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